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[Review] Resident Evil Revelations 2: carta ao pai, carta aos fãs

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O início de todos os episódios de Resident Evil Revelations 2 começa com uma frase atribuída ao escritor Franz Kafka. O autor tcheco, um dos mais influentes do século 20, é uma referência constante durante todo o jogo. Cada um dos quatro capítulos que formam Revelations 2 tem o nome de uma obra dele: Penal Colony, Contemplation, Judgment e a última: Metomorphosis, que sai nesta terça-feira (17) e completa, enfim, o novo jogo da série.

>>> Resident Evil Revelations 2 episódio 1: Penal Colony – “Vamos ver o que vem por aí”

Por sinal, seria fácil fazer um paralelo entre A Metamorfose, um dos livros mais famosos de Kafka, com o estado atual da série da Capcom. Isso vai muito além da óbvia comparação do que Resident Evil se tornou hoje em dia com a transformação que acomete o protagonista do romance.

Revelation_kafka_frase

No livro, o personagem Gregor acorda em certa manhã transformado em um enorme inseto, descrito como uma espécie de barata gigante, e começa a ser rejeitado pela família. Da mesma forma, a metamorfose de Resident Evil ao longo dos anos, de um survival horror para um jogo de ação, fez muitos fãs antigos o rejeitarem.

Assim, Revelations 2, bem como o primeiro Revelations, já é essa enorme barata, mas que tenta voltar ao seu estado original. O resultado é um deformidade ainda estranha ao olhos. Uma barata humana? Um survival ação? Porém, de alguma modo, ele consegue ter seu charme.

Carta a Barry (e aos fãs)

Se cada um dos capítulos têm o nome de uma obra de Kafka, o jogo como um todo poderia receber o título de outro livro do autor: Carta ao Pai, já que a referência mais presente em Revelations 2, e diria até a mais importante, aborda esse tema.

Em Carta ao Pai, que realmente são cartas escritas por Kafka, o escritor fala do conturbado convívio que tem com o seu progenitor e como isso afetou negativamente a sua vida. Em Revelations 2, a nova personagem na série, Moira, é Kafka. Ela demostra, durante todo o jogo, o distanciamento que tem com o pai, o já conhecido dos fãs Barry Burton (de Resident Evil 1). Isso vai desde ela só se referir a ele como “Barry” até o motivo por ela não usar arma de fogo, o que demostra uma consequência tanto na personalidade de Moira quando para a jogabilidade do jogo.

Moira_barry

Por outro lado, a segunda metade de cada capítulo do jogo mostra o quão desesperado está Barry para resgatar a filha, que foi raptada e jogada em uma ilha. Em uma outra interpretação, é quase como se Barry fosse a própria Capcom, querendo trazer de volta os fãs que ela perdeu desde da revolução (para o bem e para o mal) que Resident Evil 4 causou.

Por isso, Revelations 2 é a “carta ao fãs” pela Capcom, mostrando que (quase) pode voltar a fazer bons jogos da série, depois das falhas que cometeu com jogos aquém do esperado (Residente Evil 6 ou…alguém aí lembra de Operation Raccoon City?)

A relação pai/filha (e a meta-relação empresa/fãs) é tão importante em Revelations 2 que chega a ser o grande trunfo do jogo. Muito mais do que a novidade da mecânica de coop (ou a falta dela no PC) ou ver Claire Redfield em um Resident Evil depois de mais de dez anos, esse aspecto – mesmo que explorado aos poucos e em momentos esporádicos – traz um lado humano que é muito bem-vindo para contrabandear a trama clichês e elementos até entediantes do jogo.

Revelations Sandwich

Não me entenda mal, Revelations 2 possui seus momentos. Os sustos acontecem de vez em quando, principalmente na parte final do jogo, que é uma homenagem tão bem feita ao primeiro Resident Evil que é impossível não se levar só pela nostalgia.

Fora que os dois episódios extras (um com Moira e a segunda com a outra estreante, Natalia) que estão no season pass do jogo são tão a parte dos capítulos principais, que quase queria que o jogo todo fosse mais parecido com aquilo.

Revelations_Natalia

O problema é que quando eu via algo de bom no jogo, sempre aparecia alguma característica que quebrava minha empolgação. Fato é que Revelations 2 ainda não consegue se livrar completamente dos elementos de ação que se impregnaram na série e, o pior, dos clichês desnecessários.

Piada enfadonha com sanduíche é uma delas? Sim, mas ainda dá pra dar uma risadinha como é em Resident Evil 1. A coisa complica quando aparecem partes de autodestruição com relógio mostrando contagem regressiva, chefes que são enormes deformidades com pontos fracos gritando na cara e alguns plot twists sacais que só é possível pensar: “sério, de novo isso?”.

A mistura de momentos de empolgação com esses deslizes (o visual de começo de PS3 também é outro) faz com que se tenha essa sensação que Resident Evil Revelations 2 poderia ser muito melhor do que é, mas ainda assim é um bom jogo.

Revelations_barry

As cartas que Franz Kafka escreveu nunca chegaram às mãos do pai e eles morreram sem se conciliarem. Já a carta aos fãs que a Capcom faz com Revelations 2 pode ter seus garranchos, mas a mensagem de se reaproximarem com bons jogos da série está mais claro e, quem sabe, mais perto de acontecer no futuro.

divisoriakotaku2

A análise do jogo foi feita com uma cópia de Resident Evil Revelations 2 cedida pela Capcom. O jogo pode ser adquirido com cada episódio separado ou com pacote completo no Steam, PSN (PS3 e PS4) ou Xbox Live (Xbox One e 360). Uma versão em disco, com todos os capítulos e mais bônus, será lançada ainda esse mês.

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